9.6.06

Público nº 5917, Sexta, 9 de Junho de 2006

Marçal Grilo defende fim do Conselho de Reitores


Ex-governante insistiu na necessidade de as universidades procurarem fundos privados para se financiarem

Marçal Grilo, ex-ministro da Educação do Governo de António Guterres, defende a extinção do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP). Anteontem, o ex-governante lançou a controvérsia, no debate integrado no ciclo Olhares Cruzados sobre Trás-os-Montes e Alto Douro, que decorreu na universidade transmontana, em Vila Real, ao considerar o CRUP um órgão "absolutamente inútil" e com um papel "perverso e prejudicial" para as próprias instituições universitárias."
O grande defeito do CRUP é tratar por igual o que é diferente. O CRUP é orientado para as preocupações comuns das universidades, o que acaba por esbater as próprias diferenças. Só de forma muito artificial se pode pensar que as posições do CRUP são posições comuns", sustentou.
O outro orador da noite, Armando Mascarenhas Ferreira, reitor da universidade transmontana, ripostou contra a tese de Grilo. "O CRUP afina estratégias que têm a ver com os grandes problemas do ensino superior em Portugal. É importante como fórum de discussão", sustentou. "Este fórum pode ser criado no âmbito de um clube de reitores, por exemplo", contrapôs Grilo.
Na plateia, Ferreira Gomes, recente candidato à Reitoria da Universidade do Porto (UP), desvalorizou a importância do CRUP, actualmente presidido por José Lopes da Silva, reitor da Universidade Técnica de Lisboa. Na sua opinião, "não vale a pena travar a batalha da extinção", porque "poucos se lembram que ele ainda existe".
Mascarenhas Ferreira explodiu de imediato: "Se tivesse sido eleito reitor da UP iria propor a extinção do CRUP? Não acredito." O académico não respondeu.Mascarenhas Ferreira admite que a "má imagem" associada ao CRUP tem a ver com o facto de o financiamento das universidades prender "demasiado" as suas atenções. Mas, explicou, o CRUP "faz demasiadas vezes aquilo que não devia fazer", porque as questões do financiamento "são graves e o subfinanciamento é crónico".

O "mito" Bolonha
Na opinião de Marçal Grilo, as universidades devem contratualizar com o Estado de forma diferenciada: "Cada instituição deve ter um contrato programa com o Estado que lhe dá acesso a fundos públicos", diz, mas não podem olhar para as verbas públicas como a salvação para todos os problemas financeiros. "Os Estados estão praticamente todos falidos", anotou.
O tema do debate de Vila Real, organizado em conjunto pelo PÚBLICO e pela UTAD, tinha a ver com as consequências do processo de Bolonha no interior, mas o encontro acabou por se transformar numa discussão acesa sobre o estado do ensino superior em Portugal. Marçal Grilo defendeu ainda a mudança de modelos de governação das universidades, de forma a reforçar as lideranças, bem como o combate às corporações dos docentes, de forma a obrigá-los a uma maior mobilidade.
O ex-governante considerou ainda Bolonha um "mito" que foi encarado como um processo de uniformização do ensino superior a nível europeu, quando o seu primeiro objectivo é criar redes, mobilidade de estudantes e de investigadores e a possibilidade de desenvolver projectos comuns. Lamentou por isso que as universidades não tenham agarrado Bolonha e permitissem que a condução deste processo passasse para o poder político.
Celeste Pereira

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